Não existe fórmula mágica para passar em uma seleção. Mas há padrões que se repetem em quase todas, e é possível estar preparado – vai fazer diferença.
Existem basicamente dois tipos de perguntas nas entrevistas: as tradicionais e as comportamentais. As comportamentais estão mais em voga hoje. São questões que buscam identificar não exatamente o que você sabe, mas a sua capacidade de aprender – já que sem isso ninguém se adapta decentemente a qualquer empresa. Para verificar como será o seu comportamento no eventual futuro dentro da nova ompanhia, o entrevistador pergunta sobre o seu passado. Na linha: “Me fale sobre alguma vez em que você trabalhou sob pressão extrema, e quais foram os resultados”. Ou: “Me conte sobre uma vez em que você teve de lidar com um conflito no trabalho”. E ainda: “Você já reconheceu que tomou uma decisão errada? O que você fez depois disso?”
A melhor forma de estar preparado para esse tipo de pergunta é escrever uma pequena biografia profissional, deixando claro, de antemão, qual era a situação e qual foi o resultado (veja mais no item 1). A ascensão das perguntas comportamentais, porém, não tirou as tradicionais da jogada. É extremamente provável que lhe perguntem “onde você se vê daqui a cinco anos?” ou “por que você quer trabalhar aqui?”. Nas próximas páginas, vamos ver as melhores formas de lidar com essas questões, entre outras dicas para fazer bonito numa entrevista. Leia com carinho, e boa sorte!
1) Lição de Casa: Método Star
“STAR” é a sigla em inglês para “Situação, Tarefa, Ação, Resultado”. Esse método é fundamental para as perguntas comportamentais, do tipo “me dê um exemplo de uma vez em que você soube ser flexível”. Lembre-se de situações que viveu na carreira (ou nos estudos, ou num trabalho voluntário, caso você esteja buscando uma vaga de estágio). Então escreva tudo e releia sempre para não esquecer dos detalhes. Sempre neste esquema:
Situação: Descreva um problema que precisava de solução, um projeto, um desafio qualquer.
Tarefa: especifique quais tarefas eram necessárias para acabar com o problema.
Ação: Deixe clara qual foi a sua contribuição efetiva. Essa é a parte mais importante.
Resultado: Corte de custos, boost no faturamento, aprendizado, reconhecimento. Mostre o que a empresa (ou você) ganhou com o ocorrido. Final feliz aqui é mais importante do que em conto de fadas.
Agora, veja um exemplo de resposta, com base na pergunta “Você já fez algo que ia além das suas responsabilidades do dia a dia? Se sim, conte como foi”.
Situação: Eu trabalhava como gerente de um pet shop. Nossas vendas iam mal.
Tarefa: Precisava trazer mais clientes.
Ação: Montei uma página sobre filhotes no Instagram, intercalando posts sobre pets com conteúdo promocional.
Resultado: O perfil da loja ganhou 20 mil seguidores em três meses. O pet shop ficou mais conhecido. O movimento aumentou, e nosso faturamento passou a crescer numa média de 5% ao mês.
Pratique o autoconhecimento
É comum o recrutador começar o papo pedindo para você falar de si mesmo. “Os entrevistadores querem conhecer seus hábitos, sua estrutura familiar…”, explica Guilherme Filgueiras, gerente executivo da Michael Page, uma consultoria multinacional de RH. “As empresas estão cada vez mais preocupadas com uma sinergia de valores entre elas e seus profissionais.” Então reflita sobre quem você é e anote as conclusões. Estruture um discurso sobre sua vida, seus sonhos, seus hobbies… E busque relacionar seu perfil ao cargo em aberto.
Use o espelho
“You talkin’ to me? You talkin’ to me?”. Sim, faça como Robert De Niro em Taxi Driver, fale consigo mesmo. Treine suas falas. Pense nas perguntas padrão (veja na dica número 4) e ouça suas próprias respostas. Melhore-as, encurte-as, busque falar com desenvoltura. Quanto mais tiver seu discurso decorado menos nervoso você vai ficar na hora H.
Pesquise sobre a empresa
Use o Google, procure algum amigo de um amigo que já tenha trabalhado lá… Levante todas as informações possíveis. Mencionar algo da história ou dos números da empresa é um sinal de que você realmente está interessado.
Pesquise sobre a vaga
Tente descobrir detalhes sobre a vaga. Além de proporcionar mais segurança sobre o trabalho que você vai fazer, essas informações lhe darão embasamento para perguntas pertinentes sobre o cargo (mais sobre isso na dica 3).
2) O olhar, a voz e a roupa
Preste atenção ao seu corpo
Olhe nos olhos do entrevistador (olhar para baixo demonstra timidez; para as paredes, indecisão ou impaciência). Tenha uma postura ereta na cadeira. Evite ficar de braços cruzados (sinaliza falta de confiança) e mexendo as pernas (intranquilidade).
Nunca interrompa o recrutador
Se o entrevistador ficar cortando suas falas, é mau sinal – quer dizer que você está falando demais. Mas você não tem esse direito. Como já disse certa vez o especialista em carreira e gestão Max Gehringer: “Não é que chefe não gosta de ser interrompido. Chefe odeia”.
Vista-se como a empresa se veste
Homens não devem ir de terno e gravata se o lugar for uma startup descolada. Mulheres devem evitar joias ou vestido de festa. Ah, se a entrevista for online, não descuide da parte de baixo. Você pode ter de se levantar.
Calibre o tom de voz
Ficar alterando o tom de voz dá a ideia de nervosismo. Já falar muito baixo indica um excesso de timidez. Muito alto, então, é descontrole – ou indício de que você pode ser um chefe autoritário. Mau negócio.
3) Ajuste o discurso
Dê ordem ao caos
Para falar sobre sua experiência profissional, prepare os discursos em ordem cronológica. A organização das suas respostas vai evitar que você vá para a frente e para trás na hora de falar sobre suas realizações profissionais, confundindo (e desinteressando) o recrutador.
Faça pergunta sobre a empresa
Você já fez a lição de casa pesquisando sobre a empresa. Mas sempre existem questões cujas respostas não estão na internet. Perguntar sobre seu futuro empregador sinaliza um interesse legítimo.
Não peça prorrogação
Quando o recrutador der a entender que a entrevista foi concluída, não tente estender a conversa. Ele já ouviu tudo o que queria saber. No dia seguinte, mande um e-mail ou WhatsApp agradecendo a oportunidade. E só. Não é hora de cobrar uma definição.
4) Esteja pronto às perguntas tradicionais
Por que você quer trabalhar aqui?
Relacione o seu desejo à história da empresa. “Porque quero fazer parte de uma organização que vem crescendo 15% ao ano.”
Por que devemos contratar você?
Responda com um exemplo relacionado ao cargo: “Porque, exercendo atividades similares, consegui resultados expressivos na minha carreira, como…”.
Onde você se vê daqui 5 anos?
Essa pergunta serve para o recrutador entender se você tem um projeto de carreira que sirva para a companhia. Dizer que você pretende ser gerente não diz nada. Aprofunde sua resposta. Por exemplo: “Quero ter juntado experiência o bastante para liderar um projeto”.
Qual é o seu maior defeito?
Nada daquele papo-furado de “sou perfeccionista demais”. Citar virtude como defeito é tiro no pé. Mencione uma deficiência e acrescente o que está fazendo para superá-la. Por exemplo: “Tenho dificuldade em falar em público, mas estou fazendo um curso para resolver essa questão”.
Como você tem lidado com a pandemia?
Claro, essa não é uma pergunta tradicional, mas está se tornando comum. O recrutador pode verificar se você buscou autodesenvolvimento e qual foi sua capacidade de adaptação ao período. Fale sobre cursos online, livros, atividades físicas. Se você souber que a empresa adotou home office eterno, deixe claro que você se adaptou lindamente ao trabalho remoto. Se não souber, idem.
5) Cuidado com os erros mais comuns
Não cuspa no prato que comeu
“Por que você saiu da última empresa?”. Tem gente que acha que está na terapia e é hora de desabafar. Fala mal do antigo empregador e, principalmente, do ex-chefe. E assim deixa claro que, em pouco tempo, denotará à empresa nova também.
Não cuspa no prato em que quer comer
Mas já?! Pois é. Às vezes o tom informal de uma entrevista parece a permissão para criticar algo da empresa que está oferecendo a vaga: uma norma mais rígida, o dress code, o salário… Achou ruim? Tudo bem, o emprego não será seu.
Inglês fluente
De acordo com a consultoria de recrutamento Robert Half, inglês fluente mesmo costuma ser consequência de ter morado no exterior por um bom tempo. Se você lê e escreve qualquer coisa em inglês e sabe ter conversas sociais profissionais no idioma, mas precisa pensar um pouco antes de falar certas palavras, seu nível é “avançado”, não fluente. Se você consegue compreender um texto complexo, mas trava nos diálogos, você é intermediário. Se tem dificuldade para compreender um e-mail, seu nível é o básico. Seja sincero no currículo – e, mais importante, faça o que for necessário para subir de nível, mesmo se não estiver procurando emprego.
Tenha cuidado com o português
Dê um google em “erros comuns de português” e os risque da sua conversa. Exemplo: muita gente instruída fala “há 10 anos atrás”. Está errado – é um pleonasmo (“há” e “atrás” significam a mesma coisa). Boa parte dos recrutadores ignora tal regra. Os que não ignoram, porém, vão perceber. E você terá marcado um gol contra de bobeira.
6) E se a entrevista for online
Deixe a tecnologia nos trinques
Atualmente, é pouco provável que chamem você para uma entrevista presencial, por motivos óbvios. Se não estiver acostumado com a plataforma de videoconferência que a empresa pretende usar, faça um ensaio antes com um familiar ou um amigo. E o básico: garanta uma boa conexão de internet.
Isole-se
Cuidado com o “fator Fábio Porchat” (numa live do humorista, sua esposa passou pela câmera de toalha, saindo do banho). Escolha um lugar da casa onde você pode se isolar de fato. Avise todo mundo, para que mantenham crianças e pets distantes e não batam na porta. O avistamento de outra pessoa passará uma imagem de desleixo para o recrutador.
Prepare o cenário
Cama desarrumada, guarda-roupa aberto… Nada disso pode aparecer atrás de você. Escolha um fundo neutro, de preferência uma parede lisa. Estante cheia de livros pode ser uma distração para o recrutador – o que não vai ajudar.
Capriche no enquadramento
Não é para você aparecer num cantinho da tela e a parede dominar 80% da imagem. Teste antes o enquadramento, fique próximo da câmera, o suficiente para que apareçam bem seu rosto e suas mãos gesticulando.
7) Seja você mesmo
Você precisa sorrir mesmo se estiver com exaustão psicológica por conta do período sem emprego. Precisa tentar ser espontâneo mesmo se for tímido. Deve falar das suas qualidades mesmo que sua autoestima esteja em baixa. Essas mentiras sinceras interessam na hora da entrevista. Ainda assim, o mais importante nesse encontro é que você exponha quem você é de verdade. Seja autêntico, deixe que o recrutador tenha uma percepção correta da sua personalidade e da sua carreira. “A empresa precisa contratar quem você é como pessoa”, diz Guilherme Filgueiras, da Michael Page. “Se contratar um personagem que você construiu para a entrevista, diferente de quem você é no dia a dia, isso com certeza vai levar a duas frustrações: a da empresa, que contratou a pessoa errada, e a sua, que estará num cargo que não tem a ver com você.”
E se mesmo seguindo todas essas dicas à risca não der certo, tente entender onde você vacilou e resolva as questões. Gaguejou demais? Treine de novo as respostas. Inglês enferrujado? Encontre uma forma de praticar. E parta para a próxima melhor do que você entrou para essa última.
FONTE: Você S/A
Carvalho, Alexandre. 7 dicas para virar um ninja das entrevistas de emprego, Você S/A. São Paulo, 18 de fev. de 2021. Disponível em: <https://vocesa.abril.com.br/carreira/7-dicas-para-virar-um-ninja-das-entrevistas-de-emprego/>. Acesso em: 07 de mar. de 2022.
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